Lauril, é realmente um inimigo oculto?
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O lauril sulfato de sódio (LSS) é surfactante/tensoativo utilizado em vários cosméticos (shampoo, pasta de dente, sabonetes, etc.) e produtos de limpeza (sabões e lava louça).
Possui a propriedade detergente que remove gorduras e óleos da superfícies em questão (pele ou área a ser limpada), bem como a propriedade considerada a mais importante que é a espumógena.
E, é exatamente por produzir bastante espuma, que dá a falsa sensação de estar limpando, quando na realidade não é ele o agente, do produto em questão, que produz a limpeza em si.
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Mas por qual motivo ele é tão combatido?
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Existe a especulação que ele é cancerígeno, porém não há nenhuma comprovação científica (reconhecida pela ANVISA) que realmente isso seja verdade.
Em contrapartida, estudos demonstram que ele pode provocar alergia e irritações na pele de algumas pessoas, considerando os fatores: frequência, local de aplicação e principalmente as altas concentrações. Tais estudos consideram altas concentrações os valores acima de 5%.
Pesquisas comprovam que cabelos mergulhados em LSS 5% perdem proteínas do fio, quando comparados na imersão em água.
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Então um surfactante é sempre ruim?
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Nem sempre, pois os sabonetes naturais, feitos pelos métodos Cold e Hot também englobam a moléculas de gordura e sujeiras e as levam embora, o que tecnicamente é o que um surfactante faz, com a diferença da forma e do reagente que realiza este processo.
Enquanto um é sintético e agressivo (LSS) dependendo da concentração, o outro (sabonete) é natural e produz uma ação umectante e hidratante proporcionada pela glicerina, pelos óleos utilizados e aqueles que são adicionados a mais no processo de saponificação (superfat).
Desta forma, podemos entender o motivo que os sabonetes naturais não precisam de lauril e mesmo assim produzem muita espuma, pois em si já agem (pelo menos tecnicamente) como surfactantes.
Na preparação dos sabonetes glicerinados, feitos com bases industrializadas, estas são compostas por vários produtos e dependendo da sua formulação “precisam” da adição do surfactante, no caso o lauril, para promover a espuma.
O que NÃO significa que sabonetes glicerinados (feitos por Melt and Pour) são piores ou melhores que os naturais, mas que por exigência dos consumidores que querem ESPUMA, acabam tendo o lauril acrescido em sua formulação.
Usar ou não usar o Lauril?
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Obviamente temos que entender os prós e contras para decidirmos se usaremos em nossos produtos ou em nosso próprio corpo.
Leve em consideração que o LSS pode provocar alergia, mas lembre-se que estudos químicos comprovam que isso ocorre quando utilizado com frequência, em um mesmo local e em concentrações acima de 5%.
Leve em consideração que ele pode ser cancerígeno, mas lembre-se que não existe estudos que comprove esta tese.
Leve em consideração que toda esta espuma pode causar problemas ambientais, mas lembre-se que o lixo que você produz também causa sérios problemas ao meio ambiente.
Caso você produza e venda sabonetes, leve em consideração que se eles não fizerem espuma não serão aceitos pelos clientes, mas lembre-se que eles não precisam se afogar em tanta espuma formada por conta do volume de LSS que você utiliza em sua formulação.
Caso seja apenas um consumidor, opte pelos produtos que possuem a menor concentração de lauril, o qual pode aparecer nos rótulos também com alguns dos seguintes nomes: lauril éter sulfato de sódio, lauril éter sulfonato de sódio, sodium lauryl sulfate, sodium lauryl ether sulfate e sodium laureth sulfate.
Quanto a concentração, saiba que os componentes que aparecem primeiro, no rótulo de segurança, são os de maiores quantidades e os que aparecem no final, são os de menores quantidades. Então, veja em que ordem está o Lauril na etiqueta para saber se existem uma alta ou baixa concentração dele no produto.
Importante saber também que existem outras opções, ou seja, existe o Lauril vegetal que é natural, menos agressivos, porém com menor poder espumógeno.
Mas, fuja das opções de Lauril caseiro apresentadas no Youtube que ensinam usar detergente de cozinha ou shampoo para fazer espuma, mas saiba que estes dois produtos fazem espuma por conterem o Lauril.
Enfim, leia mais, estude mais e faça suas opções, sem extremismo. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra, lembre-se que a diferença entre o remédio e o veneno é a quantidade.
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Prof. Dr. Nilbo Nogueira
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Bibliografia:
Horita et al. “Effects of different base agents on prediction of skin irritation by sodium lauryl sulfate using patch testing and repeated application test”.
Wagner, Rita de Cássia Comis. “Degradação do cabelo decorrente do tratamento contínuo com lauril sulfato de sódio e silicone”. Dissertação (mestrado). Campinas: Universidade Estadual de Campinas/Instituto de Química, 2003.